*Coluna por Aletéia Lopes, 11/07/2022
Em paralelo aos tipos de herança que uma família pode passar aos seus herdeiros está o legado. Este fator transgeracional é mais voltado à questão de valores. Quem assume um legado se dispõe a dar continuidade aos valores que lá atrás seus antepassados firmaram como parte do patrimônio. Nem sempre uma família consegue dar continuidade aos valores como humildade, simplicidade, credibilidade, que são deixados por seus antecessores, muitas vezes esse legado é rompido durante a história familiar e organizacional.
Vamos supor que esse legado se forme na primeira geração de uma família, com o fundador sendo um homem muito simples, candango, ainda juntando dinheiro, ajudando a construir a cidade de Brasília e com muito trabalho consegue montar um patrimônio grande. Possivelmente os filhos chegam a vivenciar esse período de batalhas do pai para investir em sua empresa e conseguem assumir esse legado de humildade, simplicidade e trabalho duro, mas de repente esse legado pode se romper, porque a partir da terceira geração, as lutas deixem de ser evidentes como antes; os netos desse fundador não viram, nem viveram luta nenhuma e muitas vezes não ouvem uma história sequer sobre como seu avô construiu aquele patrimônio.
Por serem criados em uma realidade financeira bem melhor, eles têm acesso à escola de maior qualidade; não precisam se levantar cedo para trabalhar; começam a ser criados por babás, segurança e governanta à sua volta; fazem viagens internacionais, coisas que o avô, que é o fundador, e os pais deles, que estão na segunda geração, muitas vezes só tiveram acesso depois de muito tempo.
Muitas vezes as famílias não se dão conta, mas o rompimento de um legado é algo tão forte que pode influenciar não apenas nos valores morais da família, pode afetar a estabilidade da própria empresa familiar, que há décadas vinha se mantendo com uma boa reputação no mercado. Por exemplo, o fundador de uma rede de lojas populares é uma pessoa simples, fala com os clientes que se abastecem em suas lojas, vai para a missa na mesma igreja em que muitos deles vão… e é desse relacionamento próximo e cheio de identificação com o cliente que a sua empresa cresce e cresce. Ele ainda consegue que os filhos mantenham esse costume, mas infelizmente os netos simplesmente tratam seus clientes com indiferença.
Este tipo de atitude dos netos do fundador pode soar como arrogância para os clientes e prejudicar a reputação da empresa, porque ela se firmou tendo a simplicidade como um de seus princípios mais marcantes. O fundador escolheu atender bem a todos os clientes porque entendeu que eram eles que bancavam aquela empresa.
Vale lembrar que agir com simplicidade não implica em ser uma pessoa simplória, ou seja, os filhos ou netos do fundador não têm a obrigação de se sentar e almoçar com os clientes, mas devem se mostrar pessoas mais acessíveis. Sabendo disso, os filhos podem manter esse costume e até mesmo montar um revezamento entre eles. Se são quatro filhos, cada um deles pode comparecer a uma missa por mês e assim repassar esta tradição à terceira geração da família, para que os netos não percam esse costume. Assim os clientes vão sempre ver alguém da família na missa e manter esta sensação de proximidade com os donos da empresa.
Desta forma é possível perceber que o legado ultrapassa tradições e valores morais, mas tem o poder de desenvolver uma cultura na formação organizacional da família e, consequentemente, da empresa. Quando o legado se rompe de forma brusca pode ocorrer um choque cultural na empresa, prejudicando diretamente os negócios.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do ENB.
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