O Portal Economic News entrevistou Roberto Medeiros, Controlador Geral do Município de Caucaia na Prefeitura Municipal de Caucaia, município da Região Metropolitana de Fortaleza-Ce. Com formação em Direito, Roberto já atuou como Gerente de Projeto, Assessor, Corregedor-Adjunto da Área Econômica, Superintendente da CGU-Regional RN, Superintendente da CGU-Regional CE, Auditor Federal de Finanças e Controle. Na entrevista, Medeiros nos conta sobre sua carreira, como avalia o mercado atual e os principais desafios da área.
Confira a entrevista completa:
ENB: Como iniciou sua carreira profissional?
RM: Logo após concluir o curso de Direito, na UNIFOR (em 1997), participei de uma seleção e fui trabalhar no Departamento Jurídico do Grupo Edson Queiroz (advogado no Setor Tributário). Foi um período de grande aprendizado, muito estudo da legislação tributária de cada estado (RICMS) sobre derivados de petróleo, fiz uma pós-graduação e vários cursos de curta duração. Percebi que para ser um bom profissional necessitava de muito estudo e dedicação – ambos de forma contínua.
ENB: Conte-nos, brevemente, os principais momentos da sua carreira.
RM: O início na vida profissional, conforme mencionado acima, foi, além de imprevisto, um choque de realidade – o universitário informal de jeans e dockside deu lugar ao advogado sisudo de terno. Aprendi bastante, convivi com grandes profissionais, enfim obtive um forte alicerce neste início de vida corporativa.
Para acompanhar minha esposa (que conheci trabalhando no Grupo Edson Queiroz), me mudei para Brasília-DF, fui aprovado em concurso para a Controladoria-Geral da União, iniciando minha vida profissional no serviço público. Um novo e desafiador ‘mindset’ estava sendo desenvolvido.
Na Controladoria-Geral da União, participei da construção desse novo conceito de ‘controle interno’ comportando e reunindo funções adversas, porém correlatas: auditoria, correição, ouvidoria, prevenção, transparência, etc). Uma quebra de paradigmas é sempre difícil, mesmo no setor público. Mas isso foi fundamental para a CGU ser reconhecida dentro e fora do governo.
Em seguida, veio o desafio de assumir a Superintendência da CGU nos estados do Rio Grande do Norte (2013/15) e Ceará (2015/2019), conhecendo de mais próximo a realidade de um órgão federal nos estados, a importância de fomentar parcerias, ter um bom relacionamento com seus pares, ouvir as equipes, implementar novas rotinas, avaliar os resultados
Por fim, assumir a Controladoria do segundo maior município do Ceará (Caucaia, desde 2021) tem sido uma experiência provocante, onde espero corresponder refinando os controles internos municipais, viabilizando uma gestão inovadora e, proporcionando mais (e melhores) entregas para a população caucaiense.
ENB: Por que escolheu a vida no setor público para continuar trilhando sua trajetória profissional?
RM: A perspectiva de minha atuação impactar (diretamente) na melhoria da qualidade de vida da população, mediante o aprimoramento no desenvolvimento e execução das políticas públicas (educação, saúde, segurança, etc). De fato, saber que o resultado de meu trabalho importa no melhor uso do (escasso) recurso público confere uma satisfação e realização (pessoal) maior.
Poder dizer: auditei e fiscalizei (por exemplo) a aplicação de recursos federais por determinado município, recomendei melhorias para aquele hospital universitário que irão ampliar e facilitar o seu atendimento, apresentei recomendações que acarretam melhorias no uso do orçamento daquele setor, mediante o uso racional e mais adequado (por exemplo) de sua frota de veículos, contribui para a implementação do Código de Ética daquela instituição etc. Um rol infindável de atribuições bem desempenhadas por servidores da Controladoria-Geral da União.
ENB: Para profissionais em formação, o que devem estar atentos quanto a carreira no meio público?
RM: A conturbada (e acelerada) dinâmica dos acontecimentos sociais atuais observados numa sociedade ‘líquida’ (Zygmunt Bauman) – como a que vivemos, traz como principal consequência a necessidade de uma constante atualização, capacitação e correção de rumos, nessa busca por uma formação profissional de destaque.
No setor público, não é diferente: o profissional se destaca quando consegue entregar além do que se espera (das atribuições do cargo) dele, por exemplo: executando inovações próprias do setor privado, no segmento público – ainda que as adaptando. Como exemplos, temos a implementação dos processos eletrônicos, os aplicativos desenvolvidos para facilitar a interação do governo com a população, criação de perfis (de órgãos públicos) nas redes sociais, o teletrabalho (home-office), etc.
ENB: Quais os principais desafios da carreira no meio público?
RM: Ser reconhecido pela população como um importante agente que está ao seu dispor. O agente público é remunerado pelos tributos arrecadados pela população. Então, precisa estar ciente de que o povo é o seu (nosso!) patrão.
Também é importante superar algumas concepções equivocadas que ainda pairam sobre o serviço público. Primeiro: a alcunha pejorativa de ‘marajá’, dando a falsa impressão de que o servidor pouco trabalha e, sua remuneração é descolada da realidade (quando comparada ao setor privado).
Olhando ainda para dentro da Administração, há o risco da acomodação. No serviço público, como as atribuições do cargo são definidas em lei, o agente pode pensar que está ‘engessado’ em suas funções – o que muitas vezes não corresponde! O incauto pode pensar que acomodação se deve a estabilidade do cargo – o que não é verdade, dado que a estabilidade é garantia para o exercício imparcial de sua função. No meu caso, sempre procurei ir além da expectativa de meus superiores, entregando mais do que me pediam, fazendo jus a minha remuneração.
ENB: Como funciona sua gestão dos profissionais que atuam ao seu lado?
RM: Um dos maiores problemas na atuação corporativa é o líder querer receber os ‘louros’ pelo mérito de sua equipe. Então, sempre que uma atuação nossa é elogiada, reconhecida como exitosa, busco identificar o autor do projeto/medida que culminou no sucesso dessa ação e, principalmente, reconhecer de público (a ação e sua autoria).
Sempre busco valorizar o profissional do local onde estou atuando, seja conferindo uma gratificação, nomeando para um desafio maior, instigando ao seu crescimento pessoal ou mesmo, fomentando a sua participação em capacitações de curta, média e longa duração.
Gosto de reconhecer os valores de profissionais nativos da instituição/local em que estou atuando. E isso estimula que seus pares busquem dar o melhor de si, para serem reconhecidos – da mesma forma. Reforço a ideia de que não se vence uma guerra lutando sozinho. O êxito vem como resultado de um esforçado trabalho de equipe, onde todos atuam de forma harmoniosa (sinergia).
ENB: Como avalia o mercado econômico no Ceará para profissionais que desejam potencializar sua carreira?
RM: Nas últimas décadas, o Ceará tem se destacado pelo bom desempenho em vários segmentos, sejam da área pública (gestão pública aprimorada, referência em educação pública no país, etc) e privada (educação, indústria e comércio). Em decorrência, ampliou-se deveras a expectativa acerca do desempenho de seus profissionais – até para ver se corresponde à reputação.
Então, há um horizonte favorável ao profissional dedicado e orientado a resultados. Reitero, contudo, que é necessário investir em sua carreira, buscando capacitação, potencializando as oportunidades, manter um bom ‘networking’ com profissionais de diferentes segmentos, ampliar o seu arco de visão, obter uma formação heterogênea, etc.
ENB: Como o Direito impulsionou as várias funções que já exerceu?
RM: É imprescindível para o profissional (em qualquer nicho de atuação) conhecer as implicações jurídicas de seus atos. Um bom planejamento tributário (elisão fiscal) é vital para uma empresa, assim como a definição do modelo de contratação de pessoal, assessoria na implementação de Lei Geral de Proteção de Dados, plano de integridade, enfim há boas perspectivas na advocacia empresarial e, o Ceará dispõe de ótimos cursos de direito, além de excelentes escritórios de advocacia.
No setor público, a importância da formação jurídica se sobressai dado que todos os atos da Administração Pública devem ser pautados na Lei (Constituição Federal e demais legislação infraconstitucional).
ENB: Quais os próximos passos: projetos, desafios, sonhos?
RM: O maior desafio é sempre o desafio atual: no momento, estou focado em sedimentar a cultura do controle e sua importância para todos os gestores públicos na Prefeitura de Caucaia. Disseminar as orientações advindas das Cortes de Contas do Estado do Ceará e da União, além da Controladoria-Geral da União. Reduzir desperdícios, racionalizando o uso da verba pública. Buscar capacitar a equipe de servidores da Controladoria-Geral do Município para que atinjam um padrão de excelência e, com isso, serem referência no setor. Essa a missão que me foi confiada pelo Prefeito Vitor Valim.
ENB: Um Olhar sobre o Economic News Brasil por Roberto Medeiros
RM: Sou fã do Economic News Brasil! Acompanho seu conteúdo e aguardo (ansioso) a divulgação de seus boletins. É um nicho pouco explorado pela imprensa local, embora haja uma grande demanda pelos temas ali enfocados. Os tradicionais veículos de comunicação (rádio, TV e Jornal) ainda não assimilaram de forma adequada como se posicionar diante do atual mercado consumidor, ávido por ‘devorar’ informações instantâneas – e que possam ser acessadas em qualquer plataforma e a qualquer hora. Estão como ‘táxis’ tentando sobreviver em meio aos modernos serviços de aplicativos de transporte.
Nesse contexto, antevejo um futuro auspicioso para o Economic News, por estar na vanguarda da comunicação local, especificamente no nicho corporativo/empresarial. Brindando-nos com temas relevantes, matérias objetivas (bem elaboradas) e pertinentes ao meio corporativo.
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