quarta-feira, 12 de outubro de 2022

A urgência por investimentos em hidrogênio – Por Beatriz Canamary

A urgência por investimentos em projetos sólidos de hidrogênio éhoje maior do que nunca. As emissões de carbono acima dos níveis pré-COVID, a invasão da Ucrânia e as crescentes preocupações sobre segurança energética resultantes da guerra na Europa deixam claro que as economias ao redor do mundo precisam de hidrogênio limpo com urgência. E ações imediatas são necessárias para converter propostas em projetos concretos.

O hidrogênio é um dos maiores impulsionadores à transição energética. Ele permite que a energia limpa seja armazenada emgrandes volumes, transportados por longas distâncias através de dutos e navios, promovendo um sistema de maior resiliência, custo-eficiência e otimização operacional. O hidrogênio é uma molécula limpa versátil que desempenha múltiplos papéis e é tão importante quanto outros motores de descarbonização, como eletrificação direta, captura e armazenamento de carbono, biocombustíveis e medidas de eficiência energética.

É fato que nações em todo o mundo vem rapidamente se comprometendo em reduzir as emissões de carbono. 131 países que cobrem 90% do PIB global introduziram metas de zero emissões, e destes, 46 implementaram ou anunciaram tarifas e políticas comerciais sobre as emissões de carbono. Praticamente todos os stakeholders, quer sejam governos, indústrias, ou os próprios consumidores, reconhecem cada vez mais que o hidrogênio é vitalpara atingir zerar as emissões carbono, para garantir a segurança energética e estimular o crescimento econômico sustentável.

Entretanto, os projetos de hidrogênio ainda evoluem em ritmoaquém do necessário. Em 2022, cerca de 680 propostas de projetos de hidrogênio de larga escala foram apresentadas, o equivalente a US$ 240 bilhões em investimento direto até 2030. Ainda que esse montante represente um aumento de 50% de investimento desde novembro de 2021, comparado ao mesmo período anterior, apenas cerca de 10% (USD 22 bilhões) atingiram à decisão final de investimento (FID – final investment decision, sigla em inglês). Dos680 projetos anunciados, 45 projetos, no valor de US$ 29 bilhões,estão em fase de engenharia e 120 projetos, no valor de US$ 80 bilhões, estão em fase de estudos de viabilidade, de acordo com Hydrogen Council.

A Europa abriga mais de 30% dos investimentos propostos em hidrogênio em todo o mundo. No entanto, outras regiões estão liderando a implementação: 80% da capacidade global de produção de hidrogênio de baixo carbono está na América do Norte, enquanto a China está superando a Europa em eletrólise com 200 megawatts (MW) operacionais, contra 170 MW na Europa, estimulados pelo forte apoio do governo.

A Coreia do Sul e o Japão, por sua vez, estão liderando as células de combustível, impulsionadas por grande incentivos do governo e decorporações, e hoje, abrigam mais da metade dos 11 gigawatts (GW) da capacidade global de fabricação dessas células.

O ritmo de implantação é influenciado não apenas porregulamentações e compromissos por parte do setor privado, mas também por fatores como a situação econômica global, a cadeia global de suprimentos, a geopolítica, os preços das commodities e a inflação. O desenvolvimento econômico é desigual entre regiões geográficas e a perspectiva de crescimento é incerta. Esses fatorescertamente influenciam a implantação de hidrogênio, mas não necessariamente de forma negativa.

Os países estão cada vez mais buscando a independência energética e a diversificação das matrizes energéticas. Na UE, a guerra na Ucrânia levou a ambições mais ousadas de hidrogênio limpo para fortalecer a segurança energética e estimular a descarbonização. A REPowerEU da UE, anunciada três semanas após o início da guerra da Ucrânia, elevou a meta de 5,6 milhões de toneladas métricas (MT) de hidrogênio renovável implantado até 2030 para 10 milhões de MT de hidrogênio renovável produzido no mercado interno e outros 10 MT de hidrogênio limpo importado. Organizaçõesaceleraram os planos de implantação de gasodutos de hidrogênio,agora para 28.000 km de extensão até 2030.

Para muitos países, o hidrogênio é sobre monetizar fontes energéticas descentralizadas como as renováveis do Chile, Brasil, Austrália e Egito, ou simplesmente garantir a segurança energética através da autossuficiência, como é o caso da China sobrehidrogênio.

A principal barreira para a execução dos projetos hoje é a falta de visibilidade da demanda – muitos estão aguardando decisões sobre os marcos regulatórios e financiamentos para incentivar os offtakers a entrar em contratos de fornecimento de hidrogênio de longo prazo. Esse offtake de longo prazo é fundamental para destravar o financiamento de projetos e o apoio de investidores financeiros.

Alavancar projetos de hidrogênio para atingir a meta de carbono-zero até 2050, de acordo com o Hydrogen Council, requer o triplo de investimento em hidrogênio até 2030 – ou seja, investimentos adicionais de USD 460 bilhões. Esse montante parece grande, mas quando comparado aos investimentos em petróleo e gás na última década, o hidrogênio representa menos de 15% dos investimentos comprometidos nesses outros dois combustíveis. Em toda a cadeia de valor, os investimentos em infraestrutura de hidrogênio que conecte oferta e demanda estão praticamente parados, com uma lacuna de investimento de mais de 80% entre as propostas de projetos e o que é de fato necessário para atingir a emissão zero de carbono.

A ação conjunta entre setores público e privado para transformar projetos em ações é urgentemente necessária. O comércio global de hidrogênio permite trazer hidrogênio limpo de regiões com recursos energéticos abundantes para os principais centros de demanda, acelerando a captação de hidrogênio e reduzindo custos. Isso requer uma ampla coordenação internacional, uma sólida regulamentação na comercialização global, um sistema criterioso de certificação e a infraestrutura entre fronteiras. E a indústria precisa dar celeridade aos projetos e concentrar seus esforços no estabelecimento de infraestrutura de transporte transfronteiriço, terminais, armazenamento em larga escala, tecnologias de conversão, redes de distribuição e estações de reabastecimento. À medida que a cooperação internacional entre os governos avança, a indústria deve ajudar ativamente em priorizar ações para permitir acordoscomerciais eficazes que atendam à oferta e à demanda entrefronteiras.

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