*Coluna por Beatriz Canamary, 08/09/22
Em 2021, o interesse do mundo corporativo por ingressar em novas fusões e aquisições atingiu seu ápice: um recorde mundial de US$ 5,9 trilhões em transações concluídas, sendo US$ 3,8 trilhões por empresas operacionais e o restante por fundos de private equity e empresas de propósito específico. Mais de 60% das fusões e aquisições globais foram baseadas nos EUA, com um recorde de US$ 2,9 trilhões em transações registradas. A alta competição mundial por ativos, devido ao custo de capital historicamente baixo, fizeram com que compradores pagarem valores surpreendentes, com uma avaliação média recorde de 15,4 vezes o Ebitda. O volume de transações com empresas de alta tecnologia disparou, respondendo por um quarto do montante total.
À medida que os mercados de ações começaram a cair no início de 2022, as transações realizadas em 2021 foram sendo consumadas. Após a emoção do ‘namoro’ vem a difícil tarefa de integração pós-fusão, somada ao caos da elevada inflação e desaceleração do crescimento econômico.
Os compradores, que normalmente superestimam os benefícios operacionais das fusões e aquisições (as “sinergias” no discurso corporativo), com a ideia de um natural cortes de custos, agora estão sendo desafiados à execução dessa tarefa em um cenários de inflação alta, interrupção da cadeia de suprimentos e inconstância nos custos de insumos.
Como exemplo de acordos ambiciosos em 2021, a Just Eat Takeaway.com, uma empresa europeia de entrega de alimentos, anunciou em agosto deste ano, uma redução do valor do Grubhub, sua subsidiária americana, em US$ 3,3 bilhões, apenas um ano após concluir o acordo de US$ 7,3 bilhões.
Historicamente, o mercado de M&A (sigla em inglês para fusões e aquisições) flui em ondas. Momentos de alta são seguidos por momentos de baixa, tradicionalmente de curta duração. No entanto, ainda não se sabe se esse mercado está na onda baixa ou apenas desacelerando.
Problemas na cadeia de suprimentos, inflação, o conflito na Ucrânia, a decisão da Rússia de interromper o fornecimento de gás, taxas de juros crescentes, um mercado de ações volátil e outros fatores foram suficientes para causar uma desaceleração, de maneira geral, em fusões e aquisições em 2022, com um registro de 21% abaixo no primeiro semestre do ano em comparação ao mesmo período do ano de 2021.
Entretanto, as áreas de oportunidade continuam a existir. Entre as principais tendências para o segundo semestre de 2022 e 2023 estão os negócios ESG (ambiental, social e governança), com transações internacionais em setores mais resistentes à recessão, como Fintech, tecnologia, energia, saúde e telecomunicações. Na realidade, as fusões e aquisições estimuladas pela pressão regulatória para divulgar o desempenho de ESG aumentaram 111% durante o primeiro semestre de 2022 em comparação com o mesmo período do ano passado.
O ESG tornou-se uma das principais prioridades das empresas devido ao maior foco de reguladores, investidores, acionistas, conselhos de administração e consumidores. Pesquisas recentes apontam que 60% das negociações em 2021 foram abandonadas devido a uma avaliação negativa de ESG. As empresas estão muito cientes de que um foco adequado em ESG pode estar relacionado à criação de valor e uma vantagem sobre concorrentes que não enfatizam políticas e práticas ESG. Além disso, as empresas compatíveis com ESG que procuram arrecadar fundos têm menos probabilidade de conceder prêmios de risco, pois os investidores as consideram oportunidades de economia de custos, geração de receita e mitigação de riscos.
A UE, por exemplo, determinou que 49.000 empresas em toda a região devem começar a apresentar relatórios de sustentabilidade no próximo ano.
Nos Estados Unidos a Securities and Exchange Commission (SEC) está elaborando uma regra que exigirá que as empresas americanas apresentem regularmente divulgações detalhadas sobre os riscos climáticos, incluindo suas emissões de carbono.
O setor corporativo está bem ciente de que Fusões e Aquisições são boas estratégias para atingir as metas ESG e endereçar as principais preocupações ESG levantadas por acionistas e partes interessadas, portanto, uma forte tendência para o segundo semestre de 2022 e 2023. Outra janela de oportunidades está nas empresas de private equity que buscam empresas que possam ser transformadas de forma fácil e rápida em superstars de ESG, facilitando assim a estratégia de saída desses investimentos.
É claro que as fusões e aquisições em 2022 foram impactadas por inúmeras variáveis econômicas e regulatórias, o que criou uma quantidade significativa de volatilidade e incerteza fazendo com que a avaliação e precificação das empresas se tornassem mais complexas.
No entanto, embora a alta inflação e o aumento das taxas de juros possam ser fatores preocupantes, historicamente estes não são fatores para paralisação de fusões e aquisições. Ainda que o custo de capital tenha aumentado, muitas empresas estão com números recordes de reservas de caixa, e os investidores de private equity ainda têm reservas significativas de caixa disponíveis para serem aplicadas. Além disso, há uma grande oferta de riquezas na América Latina e demais mercados emergentes. Empresas dispostas a assumir maiores riscos nesse ambiente volátil geralmente são recompensadas no futuro, por preços de ações mais elevados e por melhor avaliação de saída.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do ENB.
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