sexta-feira, 10 de junho de 2022

Novas formas de trabalho demandam atualização na legislação trabalhista, concluem especialistas na FIESP

Entre as várias mudanças provocadas pela pandemia causada pelo novo coronavírus estão as do mundo do trabalho. Durante o período mais agudo de isolamento social, boa parte dos trabalhadores realizaram suas atividades de maneira remota. Com maior participação no mercado, a chamada geração Z (que inclui os nascidos a partir de 1995) tem concepções diferentes em relação ao mundo do trabalho.

“Para eles não faz sentido sair correndo para pegar o metrô, chegar suado ao local de trabalho e bater cartão. E quando fazem isso, depois saem para tomar café”, disse o professor de Direito Sólon de Almeida Cunha, em reunião do Conselho Superior de Relações do Trabalho (Cort) da Fiesp, realizada na terça-feira (7/6), sob a direção de Maria Cristina Mattioli, que preside o Conselho.

A advogada Fabíola Cavalcanti, do escritório Tozzini Freire Advogados, vai além em relação ao tema. “A questão nem é se o cara tem que pegar o metrô e bater cartão. Ele nem quer nem pegar o metrô”. Isso ocorre porque a nova geração preza pela cultura do bem-estar das relações de trabalho. E, para esse público, o trabalho precisa ter propósito.

“Caso contrário o profissional não vai. E os operadores do Direito precisam captar essa mudança de mentalidade, ou estaremos fadados ao fracasso”, explicou Cavalcanti, para quem a pandemia apenas acelerou as possibilidades de execução da atividade laboral. “A CLT hoje já não é mais suficiente. Precisamos avançar nas relações e reinventar o sistema de proteção aos trabalhadores”, defendeu.

A justificativa é de que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) já não cobre toda a população economicamente ativa. “São 76 milhões de pessoas fora do mercado formal de trabalho. E a nova geração tem um jeito diferente de pensar, com outras motivações. Ela quer desenvolvimento pessoal e profissional, a ponto de criar essa teoria do Capital Sustentável”, pontuou Almeida Cunha.

Em um cenário em que os millennials (nascidos entre 1980 e 1995) representam 52% e a geração Z, posterior, 26% do mercado de trabalho, as formas de burlar a CLT são manifestações de desobediência civil, chamada por ele de revolução silenciosa.

“Muitos jovens dessa geração não querem mais ser ‘empregados’ e estão buscando outras formas de trabalho. Logo, isso implicará impacto direto na legislação do trabalho, que deve ser flexível o suficiente para atender às necessidades dessa nova classe de trabalhadores”, lembrou o conselheiro do Cort.

Luciana Tornovsky, do Demarest Advogados, apontou o crescimento do empreendedorismo no Brasil, motivado principalmente por uma das maiores crises sanitárias e econômicas. “As pessoas se viram forçadas a buscar meios de recomposição da renda, e isso levou o país a ter o maior número de empreendedores da história. Os microempreendedores individuais foram os que mais cresceram, com 2,6 milhões de registros em 2020”, contabilizou.

Mais impactadas pela crise, mulheres e pessoas negras lideram as estatísticas de empreendedorismo, sendo a vertente digital a que mais se destaca. A facilidade de acesso ao crédito e de lidar com as novas tecnologias ajuda a explicar o fenômeno, para a especialista. “Inovação e tecnologia está diretamente relacionada à população mais jovem, e o empreendedorismo digital é uma tendência que veio para ficar. 20 anos atrás o e-commerce era algo do futuro. Hoje, principalmente depois da pandemia, é essencial para quem busca alternativas”, finalizou n

A Informação é da Agência FIESP.

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